INFERTILIDADE
Infertilidade
Infertilidade - Incapacidade de conceber um filho, após dois anos de relações sexuais regulares sem a utilização de métodos contraceptivos (OMS) ou a impossibilidade de levar a termo uma gravidez até ao parto.
Esterilidade - incapacidade total e irreversível de ter filhos.
Incidência da infertilidade:
Em Portugal, 10 a 16% dos casais são inférteis.
A nível mundial 8 a 17% dos casais são inférteis, afectando cerca de 50 a 80 milhões de casais.
Etiologia
A incidência de infertilidade em homens e mulheres é quase idêntica. A infertilidade afeta a mulher em cerca de 30 a 40% dos casos e no homem afeta cerca de 40%. Problemas comuns a ambos são diagnosticados em 15 a 30% dos casais inférteis.
Após a investigação clínica completa, as causas podem permanecer inexplicadas em uma minoria dos casais inférteis (5-10%).
De qualquer forma, até 60 % dos casais que não conceberam depois de um ano acabarão finalmente por consegui-lo, com ou sem tratamento. O objectivo do tratamento é reduzir o tempo necessário para obter uma gravidez viável.

Fig. 1 Distribuição das causas de infertilidade - Adaptado de https://biologia-rma.blogspot.pt/2007/12/blog-post_5274.html (acedido a 30/11/2014)
Nota: Idiopático são as causas não identificadas.
Causas de infertilidade femininas:
- Idade da mulher: redução numérica dos folículos e alterações dos restantes. Os folículos com maior capacidade de resposta ao recrutamento folicular são os primeiros a serem utilizados;
- Distúrbios hormonais que interfiram no crescimento e libertação do oócito II (ovulação);
- Síndrome de Ovários Poliquísticos;
- Obstrução das trompas uterinas;
- Alterações do muco cervical que impedem a locomoção dos espermatozóides;
- Endometriose.
Fig. 2 Causas de infertilidade feminina - Adaptado de https://biologia-rma.blogspot.pt/2007/12/blog-post_5274.html (acedido a 30/11/2014)
Causas de infertilidade masculinas:
- Idade do homem: aos 65 anos a taxa de fertilidade diminui cerca de 35% em relação aos 25 anos
- Alteração dos espermatozóides:
- diminuição do número (oligospermia)/ ausência (azoospermia);
- diminuição da mobilidade;
- alteração da morfologia;
- Vasectomia;
- Impotência sexual.
Causas de infertilidade comuns:
- Exposição a produtos tóxicos: casais que fumam têm um risco 2,4 vezes superior em relação aos não fumadores de não conseguirem uma gestação e de 3,8 vezes de não atingirem o nascimento de um filho vivo;
- Coexistência de algumas doenças;
- Passado de doenças sexualmente transmissíveis.
REPRODUÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA
Técnicas de Reprodução Medicamente assistida:
- Inseminação artificial;
- FIV (Fertilização in vitro);
- ICSI (Injeção Intracitoplasmática de espermatozóides);
- GIFT (Transferência Intrafalopiana de gâmetas);
- ZIFT (Transferência Intrafalopiana de zigotos).
Como o nome indica é uma técnica em que a fertilização ocorre fora do organismo humano. É um processo em que se efectua a extracção dos óvulos do ovário da mulher, ocorrendo a fecundação em laboratório e posteriormente o óvulo fecundado é reintroduzido no útero.
A fertilização in vitro é indicada para casos de:
- Disfunção ovárica grave;
- Obstrução das trompas;
- Endometriose;
- Quando um dos membros do casal tem uma doença de transmissão sexual incurável e relações sexuais sem preservativo pode contaminar o parceiro (HIV, hepatite B ou C);
- Casos de infertilidade inexplicável;
- Casais com elevado risco de transmissão de doenças genéticas;
- Oligospermia moderada;
- Insucesso de outras técnicas;
- Idade avançada.
Processo:
Fig. 3 O processo de Fertilização in vitro - Adaptado de https://www.mexicalihealthcare.com/procedure/In-Vitro-Fertilization/21 (acedido a 30/11/2014)
No início do ciclo menstrual, a GnRH hipotalâmica estimula a hipófise anterior a secretar FSH e LH o que origina o recrutamento e o crescimento de alguns folículos primordiais. À medida que os folículos crescem, aumenta a acção de FSH e LH levando ao aumento da produção de androgénios pelos folículos e à sua transformação em estrogénios.
O estradiol é produzido em concentrações progressivamente mais elevadas e o aumento dos seus níveis sanguíneos leva a um efeito de feedback negativo sobre a FSH, que diminui, originando a selecção do folículo dominante. Esse folículo continuará a desenvolver-se e a produzir quantidades cada vez maiores de estradiol, enquanto que os restantes evoluirão para a apoptose.
1. Estimulação da ovulação
A maioria dos programas FIV baseiam-se na estimulação ovárica com gonadotropinas exógenas recombinantes.
Numa primeira fase efectua-se um tratamento hormonal, a partir do 3º ou 5º dia do ciclo sexual. Procede-se à estimulação dos ovários (através de um derivado sintético semelhante à FSH) o que activa o desenvolvimento de múltiplos folículos. A observação dos folículos por ecografia a partir do 10º dia permite confirmar o desenvolvimento folicular.
2. Colheita dos óvulos
Para ser fecundado o oócito tem de estar maduro (Metafase II), sendo o pico de LH, que leva a que isso aconteça, logo à ruptura folicular e à ovulação, activando a meiose no oócito e induzindo a progressão de Profase I para a Metafase II.
Cerca de 34 a 36 horas antes da colheita é administrada uma injecção de HCG (semelhante a LH) que provoca a maturação folicular final, o início da luteinização das células da granulosa e o reactivar da meiose ovocitária permitem a aspiração dos oócitos II através de uma agulha com a ajuda de ecografia transvaginal.
3. Colheita dos espermatozóides
Os espermatozóides são colhidos do esperma e sujeitos a um tratamento prévio, em meio de cultura especial, para que sejam escolhidos os melhores em termos de mobilidade e morfologia.
4. Manipulação dos gâmetas
Numa segunda fase, colocam-se, num meio de cultura apropriado, alguns oócitos II e uma elevada concentração de espermatozóides (50 a 100 mil). O meio é colocado numa incubadora a 37ºC durante 48 horas, com uma atmosfera humidificada, reconstituindo as condições das trompas de Falópio e do útero.
5. Transferência dos embriões e suporte da fase lútea
Após a fecundação e a formação do zigoto, alguns destes embriões são seleccionados, sendo transferidos de um a três para a cavidade uterina entre o 2º e o 5º dia após a fecundação.
A FIV exige que a mulher tenha o útero funcional para receber directamente o embrião, para isso é necessário realizar uma avaliação da cavidade uterina (excluir anomalias do endométrio, miomas ou anomalias congénitas).
Normalmente, a mulher é submetida previamente a um tratamento hormonal com progesterona, no sentido de melhorar o estado do endométrio, facilitando a nidação.
Na cavidade uterina, o embrião continua o processo mitótico de proliferação celular e inicia a sua diferenciação.
Riscos:
- Dificuldades durante o processo:
o efeitos indesejáveis de doses elevadas de hormonas
o desconforto ligado à monitorização laboratorial de todo o processo
o intervenções médico-cirúrgicas repetidas
- Consequências da transferência de vários embriões e gestações múltiplas:
o baixo peso ao nascer
o problemas respiratórios de recém-nascidos
o riscos para a grávida
- Risco da estimulação hormonal
- Síndrome de hiperestimulação do ovário (5% dos casos)
- Resposta exagerada à HCG, provocando um aumento da permeabilidade vascular, resultando no desvio de líquidos do espaço intravascular para os tecidos, pondo em risco a vida da mulher
- Esgotamento folicular precoce.
Implicações éticas e sociais:
- Estado do embrião;
- Embriões excedentários/Congelamento embrionário;
- Selecção de embriões – diagnóstico pré-implantatório;
- Selecção do sexo por motivos não médicos;
- Doação de gâmetas;
- Maternidade de substituição (barriga de aluguer);
- Inseminação artificial em doentes com HIV;
- FIV em homossexuais;
- Reprodução após falecimento do progenitor;
- Fecundação estritamente "artificial"– contradição da selecção natural;
- Papel da Igreja e outras Religiões/Instituições.
Criopreservação de gâmetas e embriões
Os embriões que não são transferidos podem ser crioconservados para mais tarde serem utilizados pelo casal. A crioconservação de embriões é mais complexa do que a crioconservação de espermatozoides, o que obriga a uma passagem dos embriões por diversas concentrações de crioprotectores podendo ser efectuada com base na descida automaticamente programada da temperatura num aparelho especial (crioconservação lenta).
Após a crioconservação de embriões, a taxa de sobrevivência após descongelação é de cerca de 70%.
A crioconservação de oócitos II é mais complexa do que a dos embriões, embora siga parâmetros parcialmente idênticos. O grande problema é a manutenção da integridade do fuso acromático, uma vez que se encontram em metáfase II.
A História
O primeiro bebé (Louise Brown) nascido como resultado da fertilização in vitro nasceu em Inglaterra em Julho de 1978.
Graças ao sucesso desta técnica, Robert G. Edwards recebeu o Prémio Nobel da Medicina e Fisiologia em 2010.
Desde esse momento, centenas de milhares de casais já usufruíram desta técnica e de outras derivadas desta como a ICSI (Injeção Intracitoplasmática de espermatozóides). No total já nasceram cerca de 3 milhões de crianças e actualmente 1 a 6% dos nascimentos na Europa são nascimentos resultantes da FIV.
O sucesso
A idade da mulher é o factor que mais influencia o sucesso do processo. Actualmente, conseguem-se taxas de gravidez de 50 a 55% em mulheres até 35 anos de idade, diminuindo para 10 a 15% em mulheres com mais de 39 anos e menos de 3% após os 42 anos.
MATURAÇÃO IN VITRO
Na década de 1990 desenvolveu-se uma nova variante semelhante à FIV em que se recuperam os oócitos a partir dos folículos ováricos não estimulados ou minimamente estimulados. Esta variante permite evitar a síndrome da hiperestimulação ovárica, sendo principalmente utilizada em mulheres com síndrome do ovário poliquístico.
Os oócitos, colhidos durante a fase folicular, já completaram a sua fase de crescimento e se forem libertados do seu ambiente folicular e cultivados in vitro são capazes de avançar no processo meiótico e amadurecer.
Esta técnica permite reduzir os custos do processo e é comparável em eficácia e segurança à FIV.
O primeiro bebé resultante desta técnica nasceu em 1994.
https://www.youtube.com/watch?v=ao5eqdEK8RQ
Este video mostra como ocorre todo o processo.
Bibliografia:
OLIVEIRA, Carlos Freire. Manual de Ginecologia. Permanyer Portugal, 2009.
https://www.medicinareprodutiva.com.br/fertilizacao-in-vitro-convencional-fiv (consultado a 25/11/2014)
https://www.ferticentro.pt/pt/tratamentos/fecundacao.aspx (consultado a 25/11/2014)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fertiliza%C3%A7%C3%A3o_in_vitro (consultado a 25/11/2014)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Infertilidade (consultado a 25/11/2014)